Rosas e Champanhe - Capítulo - 11.1
O cenário até onde os olhos alcançavam estava coberto de branco devido à neve que havia caído durante a noite. O som da neve sendo limpa podia ser ouvido claramente pela manhã, mas a tempestade só ficou mais forte com o tempo. Yiwon se levantou na mesma hora de sempre e se dirigiu para a mesa de jantar.
Como esperado, Caesar já estava sentado à mesa. Ao ouvir os passos, ele virou a cabeça e olhou para o rosto de Yiwon com um sorriso.
— Está nevando de novo.
Caesar o seguiu com o olhar como se não pudesse tirar os olhos dele. Yiwon foi para o seu lugar sem dizer uma palavra. Enquanto esticava seu guardanapo e pegava o pão, Caesar abriu sua boca novamente.
— Vai ser difícil sair para trabalhar. Suponho que vou ter que trabalhar em casa por um tempo.
Caesar continuou conversando com Yiwon, que permanecia calado.
— Dizem que se você polvilhar sal, a neve não se acumula, mas quanto…
— Ei.
De repente, Yiwon interrompeu as palavras de Caesar. Quando o homem olhou para ele com um sorriso, Yiwon disse com um rosto inexpressivo.
— Eu não estou com vontade de falar com você.
Esse foi o fim. Após dar um aviso frio, Yiwon degustou tranquilamente a refeição trazida pelo mordomo, e não abriu mais a boca. Caesar, que estava com a mão no queixo olhando para Yiwon, imediatamente deu de ombros.
— Vai continuar trabalhando no estúdio?
Como esperado, Caesar fingiu não ouvir Yiwon. Em vez de responder, Yiwon silenciosamente colocou a comida na boca.
— Seria bom colher rosas na estufa…
Antes que Caesar pudesse terminar de falar, Yiwon largou o guardanapo e se levantou.
— Agradeço pela comida. Estava ótimo.
Caesar olhou para Yiwon, que cumprimentou o mordomo e depois partiu. O mordomo, que estava recolhendo os pratos vazios, olhou para o patrão e perguntou.
— O que aconteceu com ele?
— Bem… — disse Caesar. — Eu não sei.
*
Realmente não entendo aquele homem.
Yiwon pensou com um olhar franzido.
Não entendo porque fiquei tão irritado. É provavelmente por isso que estou agindo de modo estúpido.
Ele nunca poderia entender Caesar. Porque um homem que não hesita em apontar uma arma para uma criança rir e brincar comigo assim? É claro que eu já sabia que ele tem o sangue frio, provavelmente não chora e nem sangra… mas como pode sorrir para mim daquele jeito como se nada tivesse acontecido? Esse homem não tem consciência do que estava acontecendo? Yiwon estava frustrado com a atitude de Caesar.
É melhor me apressar e voltar.
Recobrando sua determinação, ele se dirigiu às pressas para o escritório.
***
Por alguns dias, Yiwon ficou trancado na biblioteca estudando os documentos. A razão pela qual estava tão obcecado com o trabalho era porque queria sair daquela mansão o mais rápido possível. Queria terminar tudo e nunca mais em sua vida se encontrar com Caesar.
Ele comia no escritório, trabalhava o máximo que podia e dormia o mínimo possível. Tudo o que ele fazia era trabalhar com o máximo de profissionalismo possível.
Como planejado, se encontrava cada vez menos com Caesar. No máximo, eles se encontravam ao comer ou caminhar pelo corredor. Se não fosse pela neve que caiu durante vários dias, fazendo Caesar permanecer na mansão, eles mal teriam se visto.
Caesar não mudou em nada. Quando seus rostos se encontraram, ele disse coisas triviais e tocou o peito de Yiwon. Yiwon, que estava aborrecido no início, logo mudou seu comportamento e passou a ignorá-lo. Se pudesse, teria preferido permanecer na ignorância, mas a realidade é que agora ele sabia. Infelizmente, Caesar era um cliente.
….
Yiwon olhou para os documentos com o cenho franzido. No papel havia detalhes sobre como e para quem a propriedade da terra em desenvolvimento havia sido transferida. Por mais que procurasse entre os documentos, o nome do proprietário final era desconhecido. As propriedades deveriam estar no nome do ex-prefeito, mas os fatos eram diferentes. Na situação atual, o mais correto seria dizer que elas não pertenciam a ninguém. Talvez Berdiaev estivesse tentando se livrar dos impostos. O mais provável é que ele esteve reduzido os ativos em seu nome. Se fosse esse o caso, ele teria mantido as propriedades em nome de outra pessoa?
Pensando nisso, ele imediatamente pegou os papéis e se levantou de sua cadeira. Era hora de ir ver Caesar.
***
Ao sair do escritório, Yiwon subitamente percebeu que esta era a primeira vez que ele iria procurar Caesar. Pensando bem, o homem sempre aparecia primeiro sem que Yiwon precisasse chamá-lo. Era como se ele estivesse sempre lá, como se fizesse parte do ar.
Yiwon estava andando com um humor estranho quando se deparou com um mordomo caminhando do outro lado do corredor.
— Deseja algo?
Ele respondeu ao mordomo que falou primeiro.
— Sim, sabe onde está o Caes… Sabe onde está o Czar?
Quando ele inadvertidamente chamou o nome, o mordomo fez uma expressão estranha por um momento. Yiwon rapidamente mudou para Czar, como todo mundo, e então continuou. O mordomo rapidamente mudou de expressão e respondeu com indiferença, como sempre.
— Está na sala privada. Vá até o final do corredor no primeiro andar e você o encontrará lá.
— Obrigado.
Yiwon o cumprimentou brevemente e seguiu o caminho indicado. Relembrando o interior da mansão em sua mente, ele imediatamente se lembrou onde Caesar estava. Foi exatamente para onde Yiwon tinha sido guiado a primeira vez em que esteve na mansão a pedido de Caesar.
Na quietude da mansão, Yiwon não ouvia nada além de seus próprios passos. O lugar era tão silencioso que o som de sua própria respiração ressoava. Sentindo uma estranha sensação de inquietude, ele continuou andando, até finalmente chegar ao seu destino.
As paredes envidraçadas expunham o interior imaculado. A sala de recepção privada era uma estranha mistura e dos limites do jardim com mansão, fazendo assim parte de ambas as estruturas. Yiwon teve a estranha sensação de que se o brilho do sol estivesse um pouco mais forte na região, aquele seria um ótimo lugar para tomar um banho de sol.
Quando olhou para baixo viu um par de chinelos, que havia sido descuidadamente jogado no chão. Ele não precisava perguntar: sabia exatamente de quem eram. Yiwon tirou suas sandálias e entrou por uma porta de correr, seguindo as paredes de vidro.
O silêncio permaneceu o mesmo, mas, de alguma forma, aquele lugar parecia mais relaxante. Talvez tenham sido as árvores e arbustos que o fizeram sentir como se estivesse em um canto do jardim, apesar de estar dentro da mansão. A grama suave abaixo de seus pés engoliu silenciosamente o som das pegadas de Yiwon. Através dos galhos inclinados, ele podia ver o casulo que parecia pendurado no teto. A cadeira, que parecia confortável, como a metade de uma casca de ovo que envolvia seu filhote, estava meia virada em direção ao pomar de peras, diferente da primeira vez que a tinha visto. Yiwon finalmente a observou mais atentamente e compreendeu que se tratava de uma cadeira em forma de casulo.
O corpo longo e robusto de Caesar estava deitado pacificamente, dormindo com um livro em seu peito. Yiwon parou subitamente ao vê-lo meio deitado com os olhos fechados e seus grandes pés descalços. Uma de suas pernas estava pendurada para fora e a outra coberta, junto da cadeira.
A emoção que sentiu quando o viu pela primeira vez retornou até Yiwon. Aquele homem, cujo corpo inteiro brilhava como a luz do sol, ainda era o mesmo. Não, agora parecia estar brilhando ainda mais, gloriosamente. Estava claro que se realmente existia algo como um anjo, era este mesmo homem.
Yiwon ficou ali , olhando fixamente para Caesar. Enquanto ele movia seu olhar ao longo do cabelo, que brilhava em tom prateado devido à luz do sol, o contorno da sombra do belo rosto tornou-se mais claro. Pela primeira vez, Yiwon pôde ver o rosto de Caesar em detalhes. Os cílios no lado inclinado estavam sombreados e brilhavam em um tom dourado, enquanto os do lado do rosto que foi tocado pela luz brilhava em um tom prateado.
Seus cabelos macios balançavam lentamente em tons dourados e prateados sob a luz do sol. Seus lábios, que normalmente tendem a dizer palavras sarcásticas que embrulham o estômago de Yiwon, estavam agora fechados, revelando uma boca bem cuidada.
Yiwon estendeu involuntariamente sua mão e a levou até Caesar. De repente, quis tocar no cabelo do outro. Elegantes ondas douradas brilhavam de maneira deslumbrante diante de seus olhos. Quando gentilmente estendeu a mão e tocou os cabelos, os olhos Caesar repentinamente se arregalaram.
Swoosh.
Nesse momento, um baque soou em seus ouvidos. Logo em seguida se deu conta da situação. De repente, Caesar, que havia pegado sua Glock, estava encarando Yiwon com olhos frios. O instinto reagiu antes da razão. Yiwon sentiu seu corpo inteiro congelar e prendeu a respiração. Só então ele percebeu que Caesar estava apontando a arma para ele.
Por um breve momento, houve um silêncio asfixiante. A expressão de Caesar, que estava encarando Yiwon com um rosto impiedoso, de repente mudou abruptamente.
— Deve ter se surpreendido.
Caesar, com sua habitual cara sorridente segurando sua arma, disse enquanto empurrava a Glock para dentro da cadeira.
— De próxima vez, chame meu nome e me acorde, para que eu não me arrependa depois.
Caesar casualmente o avisou, levantando-se da cadeira. A cadeira, pendurada no ar, balançou lentamente para frente e para trás, como um balanço.
— Estou surpreso. Pensei que você nunca mais falaria comigo para o resto de sua vida.
O leve sarcasmo era o mesmo com o qual Yiwon estava familiarizado. Naquele momento, Yiwon finalmente recuperou a razão e abriu a boca.
— Eu tenho algo para verificar. Podemos conversar agora?
— Quer falar de trabalho de novo?
Caesar franziu a testa meio decepcionado, então deu de ombros.
— Vamos conversar durante o chá. Siga-me.
Caesar se movimentou primeiro, seguido por Yiwon em seguida. No momento em que a porta de correr foi aberta e eles entraram no corredor, um silêncio frio o envolveu novamente. Yiwon sentiu como se tivesse sido expulso de repente de sua cama quente e adentrado uma cidade obscura. Com uma estranha sensação de desconexão, Yiwon seguiu lentamente as costas de Caesar, que caminhava sozinho à sua frente.
***
Entre as numerosas salas, Caesar se direcionou diretamente em uma pequena sala de chá. Embora pequena, era muito maior do que o apartamento em que Yiwon morava, mas comparado ao tamanho da mansão, poderia se dizer ser bastante simples.
— Então, sobre o que queria falar?
Caesar perguntou enquanto esperava o mordomo servir o chá. Ele era exatamente o mesmo de sempre. Era como se não lembrasse haver apontado uma arma para Yiwon antes. A lembrança momentânea da arma apontada em sua direção parecia um sonho.
Mas foi real. Os arrepios, que ainda não tinham cessado, reafirmaram isso a Yiwon. Novamente ele compreendeu. Afinal, a máfia ainda é a máfia. Yiwon abriu sua boca em um tom extremamente profissional.
— As terras que Zhdanov e o ex-prefeito tinham juntos tem outro dono.
Yiwon expressou casualmente os fatos que havia descoberto. Caesar, que estava ouvindo em silêncio, abriu a boca.
— Então, você quer encontrar a pessoa que emprestou o nome?
Yiwon assentiu e continuou.
— Teremos que investigar, mas essa pessoa é a chave. Se possível, temos que convencê-lo a testemunhar. Se tudo correr como planejado, será de grande ajuda para o julgamento.
Se tudo correr bem, isso vai acabar em breve. Caesar não disse nada a Yiwon, que havia encontrado uma solução. Ele apenas olhou fixamente para o rosto de Yiwon. Pensando que mais explicações eram necessárias, Yiwon deu uma mordida no biscoito servido em companhia do chá e continuou.
— Talvez seus métodos sejam todos iguais ou bem parecidos. Uma vez que descobrirmos algo sobre as terras e encontrarmos a pessoa com o título, podemos procurar outras pessoas com títulos semelhantes. É necessário descobrir se há casos similares e se continuam perseguindo outras terras…
— Está com medo?
O som do biscoito que estava mastigando cessou. Yiwon olhou diretamente para Caesar. Caesar, o encarou com um olhar um tanto desolado no rosto. Yiwon mastigou o biscoito com um rosto inexpressivo.
— Do que está falando.
Com uma voz tranquila, Caesar respondeu calmamente.
— Posso ver isso nos seus olhos.
Caesar, que em outros momentos teria sorrido e usado suas palavras sarcasticamente, inesperadamente lhe perguntou diretamente. Yiwon não tinha muito a dizer.
— Não é exatamente isso.
Yiwon acrescentou em voz baixa.
— É só que a máfia sempre será a máfia.
Caesar olhou atentamente para Yiwon.
Caesar, que tinha ficado em silêncio por algum tempo, perguntou novamente.
— Ainda está bravo por eu ter apontado uma arma para você?
— Você não entenderia de qualquer forma.
Yiwon acrescentou.
— Assim como eu não te entendo.
Eles se entreolharam em silêncio. Foi Caesar quem abriu a boca primeiro.
— Não quero que me mantenha afastado.
Yiwon franziu a testa e perguntou.
— O que importa? Não importa o que eu penso de você.
Caesar olhou diretamente para Yiwon e abriu a boca.
— Claro que importa. Estou interessado em você.
Yiwon ficou surpreso com as palavras inesperadas. Piscando os olhos redondos, ele se lembrou do passado. De maneira nenhuma. Você exigiu beijos em troca de documentos, me fez vir até sua casa, até quebrou minha scooter para me manter prisioneiro…
— Era isso que você queria?
Era irritante pensar nisso. Caesar não respondeu ao olhar provocador. Ele não sorriu docemente como de costume, nem encheu a mente de Yiwon de bobagens. Simplesmente olhou para Yiwon em silêncio.
Yiwon ficou tão perturbado com a reação inesperada que, involuntariamente, franziu as sobrancelhas. Caesar, que estava olhando silenciosamente para o rosto de Yiwon por um tempo, disse.
— Você chama a atenção onde quer que vá.
— Porque sou alto.
Quando Yiwon falou isso como se fosse natural, Caesar sorriu amargamente. Caesar, que estava olhando para o rosto de Yiwon, estendeu a mão. Involuntariamente, Yiwon permaneceu congelado. Por reflexo, Yiwon demonstrou nervosismo No entanto, Caesar tocou silenciosamente seu cabelo com as pontas dos dedos.
Enquanto Yiwon foi incapaz de reagir agradavelmente à ação inesperada, Caesar rolou lentamente seus dedos acariciando os cabelos do advogado. O comportamento imprevisível do homem fez com que Yiwon se sentisse estranho. O olhar de Caesar permaneceu fixo no rosto de Yiwon enquanto ele se levantava. Ele se inclinou sobre a mesa, sem pressa, para não assustar Yiwon. Com um rosto infinitamente suave, aproximou-se silenciosamente, como se quisesse sussurrar algo.
Caesar sussurrou no ouvido de Yiwon, enquanto colocava a mão novamente no cabelo do outro e delicadamente o acariciou.
— Sinto pena dos homens que o admiram.
O sussurro baixo em seu ouvido fez com que os pelos dos seus braços ficassem de pé. Yiwon surpreendeu-se com o estímulo inesperado. O hálito quente que tocou seu ouvido fez seu coração pulsar assustadoramente, fazendo-o parecer que ia sair pela boca. Yiwon se levantou rapidamente e declarou.
— Tenho que voltar ao trabalho.
Após cuspir apenas essas palavras, ele se virou e saiu correndo da sala. O olhar de Caesar fitando suas costas parecia queimar, mas ele o ignorou.
O que você está pensando, seu bastardo!?
Yiwon percorreu o corredor vazio, com passos deliberadamente largos. De repente, ele disse essas besteiras do nada, e tocou no meu cabelo. O que quer dizer com tudo isso?
De repente, a memória voltou à sua mente. A sensação dos dedos tocando seu cabelo, os olhos cinza prateados olhando para ele e até mesmo a voz baixa sussurrando em seu ouvido.
Por um momento sentiu aquela respiração quente e, inconscientemente, agarrou os ouvidos. Seu coração batia desesperadamente como um louco. Não podia suportar o calor que corria por todo seu corpo. Yiwon foi direto para o quarto e fechou a porta com um golpe.
Ele gosta de brincar com as pessoas…
Quanto mais pensava sobre isso, mais irritado ficava. Mas foi sua própria reação que o deixou ainda mais zangado. Os dedos tocando seu cabelo e a voz baixa continuavam o atormentando. Até mesmo a respiração quente permanecia em seus ouvidos.
°
Continua…