Rosas e Champanhe - Capítulo - 06.1
Depois que a noite chegou, o tempo frio começou a imperar e a escuridão avassaladora tomou conta do céu. Yiwon conseguiu chegar ao seu destino segurando seu casaco desde a gola, apesar do vento feroz. O bonde, que frequentemente quebrava, também parava duas paradas antes da sua casa. Era uma tortura ficar esperando o próximo bonde. Ele cerrou os dentes e correu como um louco pelas ruas até chegar em casa.
— Bem-vindo.
Quando chegou, Yiwon estava balançando os ombros, respirando pesadamente com o rosto corado. Assim que ele entrou, a mulher o cumprimentou brevemente. Em seguida, ele deixou o casaco junto à entrada, e foi aí que voltou a si. Sentindo seu cérebro congelar ele se moveu lentamente e olhou ao redor da sala.
O teatro, tão grandioso quanto sua antiga história, estava bastante cheio de pessoas que tinham ido assistir o espetáculo. Ele seria capaz de encontrar o homem entre as pessoas reunidas, que conversavam animadamente em seus trajes de gala à espera da apresentação?
Essas preocupações eram apenas uma distração. Com um breve olhar ao redor da sala, Yiwon encontrou o homem imediatamente. Estava sentado de pernas cruzadas em um sofá ao lado lendo um folheto. O movimento do homem, virando as páginas lentamente, era maravilhoso o suficiente para deixar escapar um suspiro.
O terno marrom escuro abraçava seu corpo perfeitamente era uma escolha simples, mas elegante. Em conjunto com o prendedor de gravata de diamante, com uma gravata lisa combinando, parecia contar toda a história do homem por si só. Yiwon pôde observar claramente que todos que passavam, o observavam em frenesi.
Como eles reagiriam se soubessem que esse homem é um mafioso?
A curiosidade era legítima, mas não conseguiu nem mesmo imaginar a resposta. Sem perder tempo, Yiwon se dirigiu diretamente a Caesar. Quando ele parou na frente do homem, as páginas do panfleto pararam imediatamente de ser viradas. Yiwon engasgou, olhando para seu cabelo loiro platinado, que brilhava ao ser tocado pela luz interior do ambiente.
— Senhor Caesar?
O homem ouviu a voz profunda. Os olhos cinza-prateados que recordavam o céu de uma tempestade de neve, olharam para Yiwon. O homem não reagiu. Caesar apenas fechou o panfleto e sorriu brevemente.
— Você veio.
Yiwon foi pego de surpresa pelo sorriso inesperado. Seu rosto sorridente era inesperadamente tão inocente que o fez refletir, mesmo sabendo que ele era um executivo de uma grande organização mafiosa.
Como pode um homem assim mostrar um sorriso tão inocente?
Yiwon olhou para ele, por um momento, fascinado. Mas, felizmente, a magia foi rapidamente quebrada. No momento em que Caesar se levantou, a enorme sombra do homem caiu sobre Yiwon, fazendo com que o rapaz voltasse à realidade. Yiwon ficou grato por sair do transe e, calmamente, abriu a boca.
— Agora me dê uma resposta.
Nesse instante o sino tocou, anunciando o início da apresentação. Yiwon inadvertidamente virou a cabeça, olhando para Caesar que abriu a boca olhando para a sala de concertos.
— Eles estão prestes a começar. Venha.
— Quê?
O comentário inesperado acabou saindo em som estridente. No entanto, Caesar não estava com medo e segurou o braço de Yiwon, enquanto carregava o panfleto na outra mão. Yiwon, que de repente foi agarrado pelo braço, parou, mas Caesar não hesitou em seguir o arrastando. Yiwon reclamou cuspindo apressadamente, enquanto era arrastado sem grande esforço.
— Espera, eu só vim para ouvir a resposta! Não estou pensando em ver performance nenhum-.
— Eu lhe darei uma resposta depois da apresentação.
Ao ouvir essas palavras, Yiwon fez uma pausa. Olhando para o advogado constrangido, Caesar perguntou com indiferença.
— Você terá sua resposta hoje. Ainda temos cinco horas. Tenha um pouco de paciência, sim?
Embora seu tom não tenha mudado muito, Yiwon percebeu estar sendo provocado. Se você pensou que eu ficaria nervoso e histérico, você está terrivelmente enganado. Então Yiwon respondeu, olhando para ele desafiadoramente.
— Odeio perder tempo.
— Giselle* é maravilhosa, não é perda de tempo.
Caesar, que falava de forma nem decepcionante, nem surpreendente, olhou para Yiwon. Com isso, o resultado era mais que óbvio. Yiwon o encarou de volta e disse.
— Espero que valha o suficiente para investir meu valioso tempo.
Os olhos de Caesar se inclinaram fracamente. Yiwon percebeu instintivamente que ele estava sorrindo sinceramente.
— Giselle vale a pena.
Mais uma vez, o sinal tocou e, pouco antes das portas se fecharem, os dois entraram na sala de concertos.
***
O desempenho da companhia de balé, o orgulho da Rússia, roubou suas almas. Nesta situação, foi lamentável ver tal desempenho. Giselle, uma donzela do campo que e enganada por um nobre paquerador, escolhe a morte. O desempenho da companhia de balé foi extraordinário, mas Yiwon não pôde apreciá-lo. Estava ansioso para saber que resposta o homem ao seu lado daria. Tentou fazê-lo, mas Yiwon não conseguia se concentrar no palco.
Durante o breve intervalo, ele conseguiu se acalmar. Este homem vai falar depois da apresentação. Quanto mais nervoso e ansioso eu ficar, mais feliz Caesar vai estar. Não vai funcionar do seu jeito. Yiwon estava determinado e focado em agir com seriedade.
Ao contrário do primeiro ato, brilhante e alegre, o segundo ato foi sombrio e silencioso. O corpo frágil da bailarina torna-se espírito e flutua no ar por um amor do qual ela não pôde desistir mesmo após ser traída e morrer. Os movimentos lamentáveis de Giselle para salvar o homem continuaram e o público prendeu a respiração com pesar.
Yiwon, que havia se encantado por ela, se acalmou com um suspiro quando, de repente, ouviu um som profundo.
— Vou responder a sua oferta.
A voz profunda de Caesar imediatamente tirou sua atenção do palco. Ouvindo atentamente o que o homem dizia, à espera de uma resposta, Caesar sussurrou como se tivesse deliberadamente pausando sua fala.
— Não é possível haver negociações nem compromissos comigo.
Yiwon congelou. No mesmo instante, as luzes se apagaram e a multidão aplaudiu. A performance acabou. Todos aplaudiram animadamente e bateram palmas de forma ruidosa, mas Yiwon não se moveu. Lentamente, ele virou a cabeça e analisou a situação com dificuldade.
Fui forçado a sentar ao lado desse homem para no final ouvir um ‘não’.
Caesar, então, se levantou de seu assento. Yiwon, que estava piscando, perplexo, olhou para Caesar, que retribuiu ao olhar, sorrindo.
— Então, que tal jantarmos juntos?
— Há!
Uma tremenda exclamação saiu de sua boca. Imediatamente, Yiwon mudou sua expressão de repente, se levantando e o encarando.
— Você acha que eu vou jantar casualmente com você agora?
Ele não precisava mais de boas maneiras nem nada. Caesar abriu a boca enquanto Yiwon respondia violentamente.
— Bom, não é assim?
Yiwon ignorou a pergunta e se afastou como se Caesar não fosse nada além de um estranho.
Filho da puta… Eu devia ter enfiado a caneta-tinteiro na garganta dele.
Yiwon não pôde suportar sua raiva crescente e seus passos se tornaram violentos. Com os dentes cerrados, Yiwon saiu da sala de concertos. Observando-o por trás, Caesar sorriu estranhamente, mas não buscou acompanhá-lo.
Um homem, que os observava secretamente a distância, apertou o botão em seu celular.
— Sim, senhor Zhdanov. Sou eu. Estou ligando para informá-lo…
***
Seu corpo parecia estar preso ao colchão. Yiwon gemeu de dor e se virou lentamente.
Eu cometi um erro.
Ele se culpou repetidamente, mas a dor de cabeça não melhorou. Foi causada por conta do álcool barato. É por isso que não se deve beber quando se está mal humor. Ele não conseguia controlar o que estava bebendo. Se arrependeu de novo, mas nada mudou. Ele continuou soltando gemidos dolorosos por conta da dor, quando de repente ouviu um golpe do lado de fora.
— Ei, você está ai?
A voz áspera da senhora ecoou alto. Ficou claro que ela estava preocupada, pois não viu Yiwon descer no mesmo horário de sempre. Yiwon respondeu com um suspiro.
— Sim, estou acordado…
Sua voz desajeitada e quebrada perturbou até seus próprios ouvidos. A avó, que entrou no quarto após abrir a porta, viu Yiwon enfiado na cama, e lhe deu uma bronca.
— Por que você bebeu tanto? O que aconteceu?
Ele gemeu antes de responder mas abriu a boca amargamente.
— Estava meio chateado, mas estou bem agora…
— …
Parou de falar porque sente vergonha do seu tom de voz, que não era nada bom. Ele podia sentir que a camisa e as calças eram as mesmas que estava usando no dia anterior. A avó olhou para baixo como se soubesse de tudo e disse de forma amigável.
— É melhor você fazer uma pausa hoje. Coma e beba um pouco de chá que vai te ajudar a dormir melhor. Você deve beber com moderação. Para que beber tanto ao ponto de se machucar? Hum…
Junto com os passos que podiam ser ouvidos do corredor, a bronca também foi se distanciando. Pouco depois, quando a avó voltou com chá preto com mel, Yiwon havia voltado a dormir.
***
Baam.
O som violento acordou Yiwon imediatamente. O rapaz, que estava dormindo profundamente, ficou ali por um tempo com os olhos bem abertos. Não demorou muito para que o próximo som chegasse aos ouvidos dele, enquanto ele permanecia em silêncio, distorcendo seriamente a testa.
— O que diabos vocês estão fazendo? Vocês não podem, deixem isso aí?!
No momento em que ouviu outro som violento seguido do grito de sua avó, Yiwon não hesitou mais em pular da cama. Naquele momento, seus olhos tremeram. Oh não. Ele ficou tonto e bateu com o rosto no chão, engolindo uma maldição que quase escapou de sua boca. O alvoroço continuou.
— Vovó, o que está acontecendo?
Descendo as escadas correndo, Yiwon parou de gritar. A cena que se desenrolou à sua frente era um caos completo. No momento em que viu a cena do café, todo quebrado e estilhaçado, seu semblante endureceu. As velhas cadeiras rolavam no chão. A mesa estava virada, partida ao meio. Havia uma xícara de chá, uma tigela, e outros diversos itens quebrados à vista. Os homens que estavam amotinados, pararam com os gritos de Yiwon, e o encararam. A senhora, que aos gritos buscava parar a ação dos homens mal encarados, também parou no mesmo instante.
— Vovó, o que diabos é isso…?
Yiwon, que correu para segurá-la, evitando que ela se machucasse, virou as costas para a senhora e, imediatamente, os encarou.
— Mas que diabos. Onde vocês acham que estão?
Os homens ficaram estáticos ao ouvir sua voz irritada, e em seguida, piscaram um para o outro.
— Você parece ser o famoso advogado.
Desta vez, Yiwon fez uma pausa. Mas não demorou muito.
— Ei, por que você está incomodando essas pessoas assim? Nós devemos fazer o que nos foi dito. Precisamos nos livrar de Nikolai agora mesmo!
Assim que um dos homens lhe deu um soco, Yiwon empurrou sua avó para o lado e chutou o homem.
— Ei seus bastardos! Parem com isso, parem com isso agora mesmo! Porque estão fazendo isso?
Um grito da avó veio de trás. Ao todo eram cinco baderneiros. Nikolai, que correu, se jogando na frente de Yiwon, foi nocauteado. Ele pôde sentir os outros prendendo a respiração sem sequer pensar em ajudar. Yiwon estava tentando loucamente se livrar dos homens que pularam para cima dele com alguma velocidade. Enquanto isso, os homens restantes destruíam os móveis.
— Parem, seus filhos da puta!
Yiwon cuspiu palavrões e bateu nos homens. Era possível ouvir uma série de dentes voando e ossos quebrando. Ele nem conseguia mais gritar, apenas buscou atacar o homem que o acertou diretamente e correu, em seguida, em direção ao homem que estava fazendo graça, mas foi pego pelos ombros por trás. Yiwon, que deu um soco ao se virar, deixou o homem que o segurou em colapso com apenas um golpe e voltou para o outro cara. O homem estava prestes a lançar no chão um bule antigo. A velha senhora, que estava contemplativa, gritou.
— Não, isso é…!
Yiwon cerrou os dentes e estendeu a mão com força, mas antes disso, outro homem atacou o advogado. Um som surdo de disco e um estalo alto de cerâmica ressoaram. Yiwon, que derrubou o homem, virou a cabeça com urgência, mas já era tarde demais. O bule estava quebrado. Ele viu a avó sentada, encarando os cacos, pensativa. Um dos homens que se levantou tardiamente atacaram Yiwon novamente, Yiwon cerrou os dentes e os socou de volta.
— Bando de bastardos, filhos da puta…!
***
Não demorou muito para que os homens que lutavam há muito tempo se retirassem, mancando. Era quase impossível para Yiwon correr atrás de seus oponentes em fuga e batalhar ao mesmo tempo. Mas mesmo assim, Yiwon correu quase cem metros para persegui-los enquanto os últimos fugiram em um carro. No final, ele olhou para a traseira do veículo que desapareceu diante de seus olhos e não teve escolha a não ser voltar cambaleando para o café.
A cena que permaneceu depois que os homens fugiram foi ainda mais desastrosa. Em meio a quietude, estavam os destroços do café. Pedaços de louça e móveis quebrados por todos os lados. A senhora idosa estava agachada olhando para alguma coisa. Eram os pedaços do bule quebrado que ela pegou um por um com as mãos enrugadas. O bule, que foi um presente de quando ela se casou com o marido, era um dos poucos objetos que lhe trazia preciosas lembranças do marido que partiu primeiro.
Embora agora fosse tão pequena e desgrenhada, ela normalmente era uma mulher confiante e nunca se inclinou para ninguém nem para nada. Assim que viu as lágrimas caírem nas mãos trêmulas de sua avó, Yiwon cerrou os dentes. Só havia uma pessoa que poderia fazer isso.
Você está dizendo que vai agir assim diante da rejeição de ontem?
Yiwon, que observou sua avó chorando enquanto Nikolai a segurava, oprimido pela situação, não hesitou mais: pegou seu casaco e saiu correndo.
Eu não posso te perdoar.
Para onde ele iria já estava decidido.
Foi Caesar quem ordenou este trabalho absurdamente nojento.
°
Continua…